Tive a oportunidade de receber esse material durante as minhas aulas de Psicologia Inclusiva, achei fantástico, pois esses termos geram muita controvérsia!
A nomenclatura de pessoas com deficiência mudou diversas
vezes, e ainda nos deparamos com o fato de não qual a melhor forma para nos
referir a estas pessoas.
Vamos conhecer um pouco sobre a trajetória dessas nomenclaturas?
ÉPOCA
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TERMOS E SIGNIFICADOS
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VALOR DA PESSOA
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No começo da história, durante séculos. Romances,
nomes de instituições, leis, mídia e outros meios mencionavam “os inválidos”.
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“Os inválidos”. O termo significava “indivíduos sem valor”.
Em pleno século 20, ainda se utilizava este termo, embora já sem nenhum
sentido pejorativo.
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Aquele que tinha deficiência era tido como socialmente inútil, um peso
morto para a sociedade, um fardo para a família, alguém sem valor
profissional.
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Século 20 até ± 1960.
“Derivativo para incapacitados” (Shopping News, Coluna Radioamadorismo, 1973).
“Escolas para crianças incapazes” (Shopping News, 13/12/64).
Após a I e a II Guerras Mundiais, a mídia usava o termo assim: “A
guerra produziu incapacitados”, “Os incapacitados agora exigem reabilitação
física”.
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“Os incapacitados”. O termo significava, de início, “indivíduos
sem capacidade” e, mais tarde, evoluiu e passou a significar “indivíduos
com capacidade residual”.
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Foi um avanço a sociedade reconhecer que a pessoa com deficiência
poderia ter capacidade residual, mesmo que reduzida.
Mas, ao mesmo tempo, considerava-se que a deficiência, qualquer que
fosse o tipo, eliminava ou reduzia a capacidade da pessoa em todos os
aspectos: físico, psicológico, social, profissional etc.
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De ± 1960 até ± 1980.
No final da década de 50, foi fundada a Associação de Assistência à
Criança Defeituosa – AACD (hoje denominada Associação de
Assistência à Criança Deficiente).
Na década de 50 surgiram as primeiras unidades da Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais - APAE.
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“Os defeituosos”. O termo significava “indivíduos
com deformidade” (principalmente física).
“os deficientes”. Este termo significava “indivíduos com deficiência” física, intelectual, auditiva, visual ou múltipla, que os levava a executar as funções básicas de vida (andar, sentar-se, correr, escrever, tomar banho etc.) de uma forma diferente daquela como as pessoas sem deficiência faziam. E isto começou a ser aceito pela sociedade. “os excepcionais”. O termo significava “indivíduos com deficiência intelectual”. |
A sociedade passou a utilizar estes três termos, que focalizam as
deficiências em si sem reforçarem o que as pessoas não conseguiam fazer como
a maioria.
Simultaneamente, difundia-se o movimento em defesa dos direitos das pessoas superdotadas (expressão substituída por “pessoas com altas habilidades” ou “pessoas com indícios de altas habilidades”). O movimento mostrou que o termo “os excepcionais” não poderia referir-se exclusivamente aos que tinham deficiência intelectual, pois as pessoas com superdotação também são excepcionais por estarem na outra ponta da curva da inteligência humana. |
De 1981 até ± 1987. Por pressão das organizações de pessoas com
deficiência, a ONU deu o nome de “Ano Internacional das Pessoas Deficientes”
ao ano de 1981.
E o mundo achou difícil começar a dizer ou escrever “pessoas deficientes”.
O impacto desta terminologia foi profundo e ajudou a melhorar a imagem destas
pessoas.
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“Pessoas deficientes”. Pela primeira vez em todo o
mundo, o substantivo “deficientes” (como em “os deficientes”) passou a ser
utilizado como adjetivo, sendo-lhe acrescentado o substantivo “pessoas”.
A partir de 1981, nunca mais se utilizou a palavra
“indivíduos” para se referir às pessoas com deficiência.
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Foi atribuído o valor “pessoas” àqueles que tinham deficiência,
igualando-os em direitos e dignidade à maioria dos membros de qualquer
sociedade ou país.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou em 1980 a Classificação
Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades,
mostrando que estas três dimensões existem simultaneamente em cada pessoa com
deficiência.
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De ± 1988 até ± 1993.
Alguns líderes de organizações de pessoas com deficiência contestaram
o termo “pessoa deficiente” alegando que ele sinaliza que a pessoa inteira é
deficiente, o que era inaceitável para eles.
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“Pessoas portadoras de deficiência”. Termo que, utilizado somente em
países de língua portuguesa, foi proposto para substituir o termo “pessoas
deficientes”.
Pela lei do menor esforço, logo reduziram este termo para “portadores
de deficiência”.
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O “portar uma deficiência” passou a ser um valor agregado à pessoa. A
deficiência passou a ser um detalhe da pessoa. O termo foi adotado nas
Constituições federal e estaduais e em todas as leis e políticas pertinentes
ao campo das deficiências. Conselhos, coordenadorias e associações passaram a
incluir o termo em seus nomes oficiais.
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De ± 1990 até hoje. O art. 5° da Resolução
CNE/CEB n° 2, de 11/9/01, explica que as necessidades especiais decorrem de
três situações, uma das quais envolvendo dificuldades vinculadas a
deficiências e dificuldades não-vinculadas a uma causa orgânica.
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“Pessoas com necessidades especiais”. O termo
surgiu primeiramente para substituir “deficiência” por “necessidades
especiais”, daí a expressão“ portadores de necessidades especiais”.
Depois, esse termo passou a ter significado próprio sem substituir o nome
“pessoas com deficiência”.
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De início, “necessidades especiais” representava apenas um novo termo.
Depois, com a vigência da Resolução n° 2, “necessidades especiais” passou a
ser um valor agregado tanto à pessoa com deficiência quanto a outras pessoas.
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Mesma época acima. Surgiram expressões como “crianças
especiais”, “alunos especiais”, “pacientes especiais” e assim por diante numa
tentativa de amenizar a contundência da palavra “deficientes”.
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“Pessoas especiais”. O termo apareceu como uma forma
reduzida da expressão “pessoas com necessidades especiais”, constituindo um
eufemismo dificilmente aceitável para designar um segmento
populacional.
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O adjetivo “especiais” permanece como uma simples palavra, sem agregar
valor diferenciado às pessoas com deficiência. O “especial” não é
qualificativo exclusivo das pessoas que têm deficiência, pois ele se aplica a
qualquer pessoa.
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Em junho de 1994. A Declaração de Salamanca preconiza a
educação inclusiva para todos, tenham ou não uma deficiência.
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“Pessoas com deficiência” e pessoas sem deficiência,
quando tiverem necessidades educacionais especiais e se encontrarem
segregadas, têm o direito de fazer parte das escolas inclusivas e da
sociedade inclusiva.
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O valor agregado às pessoas é o de elas fazerem parte do grande segmento
dos excluídos que, com o seu poder pessoal, exigem sua inclusão em todos os
aspectos da vida da sociedade.
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Em maio de 2002. Frei Betto escreveu no jornal O Estado
de S.Paulo um artigo em que propõe o termo “portadores de direitos
especiais” e a sigla PODE.
Alega o proponente que o substantivo “deficientes” e o adjetivo “deficientes” encerram o significado de falha ou imperfeição enquanto que a sigla PODE exprime capacidade.
O artigo, ou parte dele, foi reproduzido em revistas especializadas em
assuntos de deficiência.
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“Portadores de direitos especiais”. O termo e a sigla
apresentam problemas que inviabilizam a sua adoção em substituição a qualquer
outro termo para designar pessoas que têm deficiência. O termo “portadores”
já vem sendo questionado por sua alusão a “carregadores”, pessoas que
“portam” (levam) uma deficiência. O termo “direitos especiais” é
contraditório porque as pessoas com deficiência exigem equiparação de
direitos e não direitos especiais. E mesmo que defendessem direitos
especiais, o nome “portadores de direitos especiais” não poderia ser
exclusivo das pessoas com deficiência, pois qualquer outro grupo vulnerável
pode reivindicar direitos especiais.
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Não há valor a ser agregado com a adoção deste termo, por motivos
expostos na coluna ao lado e nesta.
A sigla PODE, apesar de lembrar “capacidade”, apresenta problemas de
uso:
1) Imaginem a mídia e outros autores escrevendo ou falando assim: “Os Podes de Osasco terão audiência com o Prefeito...”, “A Pode Maria de Souza manifestou-se a favor...”, “A sugestão de José Maurício, que é um Pode, pode ser aprovada hoje...” 2) Pelas normas brasileiras de ortografia, a sigla PODE precisa ser grafada “Pode”. Norma: Toda sigla com mais de 3 letras pronunciada como uma palavra deve ser grafada em caixa baixa com exceção da letra inicial. |
De ± 1990 até hoje e além.
A década de 90 e a primeira década do século 21 e do Terceiro Milênio
estão sendo marcadas por eventos mundiais, liderados por organizações de
pessoas com deficiência.
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“Pessoas com deficiência” passa a ser o termo preferido
por um número cada vez maior de adeptos, boa parte dos quais é constituída
por pessoas com deficiência que, no maior evento (“Encontrão”) das
organizações de pessoas com deficiência, realizado no Recife em 2000,
conclamaram o público a adotar este termo. Elas esclareceram que não são
“portadoras de deficiência” e que não querem ser chamadas com tal nome.
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Os valores agregados às pessoas com deficiência são:
1) o do empoderamento [uso do poder pessoal para fazer escolhas, tomar
decisões e assumir o controle da situação de cada um] e
2) o da responsabilidade de contribuir com seus talentos para mudar a
sociedade rumo à inclusão de todas as pessoas, com ou sem deficiência.
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SASSAKI, Romeu
Kazumi. Como chamar as pessoas que têm deficiência?Revista da Sociedade
Brasileira de Ostomizados, ano I, n. 1, 1° sem. 2003, p.8-11. [Texto atualizado em 2009
Post muito interessante! Realmente há quem não tenha conhecimento sobre isso, inclusive algumas empresas né rs
ResponderExcluirParabéns!
Ótima postagem Daiane, sigo por aqui.
ResponderExcluirAbraços,
Paulo.